sábado, 20 de agosto de 2011

As passagens e os meios

Muito se fala sobre a qualidade das passagens feitas pelos repórteres em telejornalismo. O artifício tem como principais objetivos enaltecer, ressaltar e destacar determinada informação. É importante ressaltar que, quando se trata de telejornalismo, a informação precisa ser considerada em um contexto, assim, dados, narrativa, entonação, composição, performance e dinamismo precisam ser pensados afim de facilitar a compreensão do fato narrado.

Como informação indispensável, o texto por si só já desempenha papel de composição. Um conteúdo bem elaborado para a passagem que transmita ritmo e firmeza para todo o contexto da matéria é elemento fundamental para a coesão do tema e para a compreensão eficaz do telespectador. Porém, outro detalhe que merece atenção do jornalista ao pensar, não o texto, mas a colocação da matéria é o aspecto físico da montagem. Neste ponto, é necessário sensibilidade e um tom de senso crítico do profissional para a escolha do local onde a passagem será gravada. Um bom relacionamento com sua equipe, principalmente com o repórter cinematográfico, que tem uma visão diferenciada da imagem, e uma coesão afiada com a narrativa, são detalhes essenciais.

O primeiro ponto que requer atenção é a escolha do tema. Como já foi dito acima, ressaltar e reforçar a parte mais importante do assunto é uma boa saída para a passagem. Outro artifício é colocar na passagem a informação onde não se tem a cobertura de imagens ou não é possível usar artes.

Em segundo lugar é necessário coesão de tempo. Por muitas vezes a matéria é montada por mais de um repórter ou então em dias distintos. Assim, gravar uma passagem a noite, quando as imagens em maioria foram feitas durante o dia, ambientes que contrastam entre si e mudanças repentinas de ambientes sem coesão com o texto merecem atenção do repórter para não competirem com a informação que deseja ser passada.

A iluminação também deve ser uma preocupação. Muitas vezes as equipes de jornalismo, principalmente as do interior, não possuem um iluminador ou uma abrangência significativa na qualidade de equipamentos. Assim, os profissionais devem dar preferência a ambientes com boa iluminação e qualidade natural de imagem para que, no televisor e na geração das imagens, a narrativa não saia prejudicada.

Por fim, mas não menos importante, a composição do ambiente. O telejornalista precisa ter a ciência de que tudo que é dito e, principalmente, tudo que aparece em imagem no vídeo é captado por algum telespectador mais atento. Nada foge da imagem daqueles que buscam a informação. Assim, em um ambiente aberto, na rua, por exemplo, o telejornalista precisa (ai a parceria com o repórter cinematográfico é extremamente importante) ter cuidado redobrado com as informações do ambiente. Vamos explicar: suponhamos que o repórter esteja no centro de uma cidade, com muitas lojas, população transitando e o tema tratado requer extrema seriedade. Ficaria, no mínimo constrangedor, que houvesse, ao fundo (mesmo que de forma discreta) uma placa de anúncio de uma loja de sex shop. Ou então, o tema sendo tratado seja de religião e ao fundo aparecesse uma placa de anúncio de uma cartomante. Coesão e cuidado precisam ser detalhes básicos.

É preciso, então, que o profissional tenha em mente que montar uma passagem de telejornalismo vai muito além de pensar qual a informação será feita ou como ela será transmitida. É necessário atenção para todos os seus componentes. Bom senso e atenção devem ser uma constante na rotina destes profissionais. Afinal, muitos são os artifícios para montar uma boa matéria, mas inúmeros são os detalhes que podem derrubar uma informação.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Os filhos da mãe

Esta crônica sai do tema deste blog. Mas, em um momento de questionamento achei interessante escrevê-la....


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Uma linda história de amor. Reconhecimento e gratidão que não têm fim. Se pudessem traduzir, este, sem dúvida, é o amor mais puro e transparente que pode existir. As mães, criaturas especiais e únicas. Muito provavelmente "mãe" é a primeira palavra que sai de nossa boca, quando estamos aprendendo a falar. Mãe deixa de ser simples palavra e vira nome próprio, nosso e de mais ninguém. Indivisível e ao mesmo tempo multiplicável. Afinal, no coração de mãe sempre cabe mais um e o amor é, sempre, igual e especial para cada um de nós.


De outro lado, o pai. Ser robusto que passa segurança, fortaleza e energia. Com pulso firme e companheirismo únicos, são nosso exemplo de batalha e luta no dia a dia. Se as mães nos ensinam a doçura e ternura, os pais nos passam a força e os bons (aos olhos deles) gostos. A mãe nos ensina a religião. O pai, o time de futebol. E aí está o começo de tudo, somos, enfim, seres humanos.



A escolha do time de futebol é feia à revelia, por indicação, por indução ou naturalmente. O fato é, o time e seu e ninguém tasca. O brasão do clube se gruda ao seu peito e faz dele uma só pulsação. Faz dele seu. Por mais que haja milhões dividindo uma mesma paixão, não, não, o time é seu. Já imaginou, alguém fazer mal ao SEU time? Situação hipotética improvável e inconcebível.


Eis que, mesmo a contragosto da mãe, você vai ao estádio, que antes era uma visão longínqua dividida apenas modelável pela tela de uma televisão. Seu pai pensando, "este é meu garoto". Você está lá, frente a frente com seu time, seus ídolos. Dando certo ou não, seu time ganhando ou não, ele é seu e merece suas lágrimas, suas cordas vocais, sua vibração, sua entrega.



Como todo filme de amor tem seu momento de tensão e desgraça, neste "sonho", há um vilão. O ser, muitas vezes vestido de calção preto e camisa amarela (variando para preta e laranja - realmente, guarda-roupas limitado) é o tal. E ele tem súditos e seguidores, que fazem parte de sua corja do mal. Vestem a mesma indumentária, mas ao contrário do mestre, possuem uma área de atuação limitada. Têm, porém, ela: a bandeira. Quadriculada e mortal. A liga recebe vários nomes: trio de arbitragem, juiz e bandeirinha, por aí vai...


Autoridades máximas do futebol dentro das quatro linhas. Autoridade pros jogadores, técnicos e comissão técnica. Já para as torcidas.... Vai tentar convencer à torcida que eles não são filhos de pessoas de vida fácil...se conseguir, parabéns, meu caro, você é um vencedor - muito provavelmente com alguns hematomas para contar a história.

Todos nós, que no início aprendemos o lindo sentimento do amor materno, nos transformamos. A única mãe que presta é a nossa. Já a do árbitro e dos bandeirinhas....eles são todos filhos delas...mas elas....não são nem um pouco louváveis. Não são mais donas de casa, enfermeiras, professoras, engenheiras, etc. Deixam de ser Luizas, Marias, Rafaleas. Passam a ser, única e exclusivamente, as culpadas. Onde já se viu, o filho "delas" prejudicar o bem maior do ensinamento que seu pai lhe passou? Imperdoável.

Lá vai uma sugestão: que tal lembrarmos que somos todos filhos de alguma mãe? Levantemos uma bandeira, a bandeira do respeito a mãe alheia, pensando nos ensinamentos de nossas progenitoras. Mas, se o árbitro, insistir em ferir o SEU time...esqueça a teoria do bom relacionamento social...afinal, antes a mãe dele do que a nossa...

domingo, 12 de junho de 2011

Informação e credibilidade: percepção dos signos em Telejornalismo

A transmissão em telejornalismo é muito mais complexa e completa do que muitas pessoas pensam. A junção de diferentes artifícios da comunicação e de técnicas da produção e emissão da mensagem fazem a diferença para o trabalho final, seja ele informar, ou prender a atenção do telespectador. Além da voz, o repórter aparece no vídeo durante a transmissão de uma notícia em TV. Portanto, é indispensável que ele tenha cuidado com a postura corporal, seus gestos e com sua expressão facial. Quanto mais natural e sincero em suas gravações ele for, mais credibilidade ele irá transmitir. Como considera Constantin Stanislavski, “para representar verdadeiramente, vocês devem enveredar pelo caminho dos objetivos certos, como se estes fossem sinais de demarcação a orientá-lo através de uma planície árida e deserta” (STANISLAVISKI, 1989, p.27 e 28).

Os textos decorados, ao serem gravados, soam menos naturalmente do que quando se está em uma conversa informal. Mesmo que mais experiente ou natural que o repórter esteja, sempre fica sujeito a ansiedade. Portanto, as cadeiras de faculdade, que ensinam e dão diretrizes aos estudantes de comunicação, precisam transmitir aos mesmos que compreender um fato e contá-lo ao telespectador é mais importante do que tratá-lo com excessiva distância, decorá-lo e simplesmente falá-lo. Humanizar o fato deve ser uma preocupação, facilitando a aproximação entre opostos.

Antes mesmo que algum texto seja dito durante a passagem o repórter já emitiu uma mensagem através dos seus elementos não verbais, os movimentos do corpo. O repórter não deve aparecer falando sobre o falecimento de alguém, com expressão de felicidade, com sorriso no rosto. É preciso que o corpo esteja em sintonia com o que está sendo dito, e também com as imagens para que a mensagem que se quer transmitir seja única e não confunda o telespectador, com falta de sincronismo entre os elementos de produção da matéria. Exemplo disso é quando o repórter estiver falando do dia anterior e fizer um gesto com a mão indicado o hoje, o agora. Ou então quando estiver fazendo uma negativa na frase e seu gesto apontar de forma positiva. Nesses exemplos, a expressão corporal estará contradizendo o que ele está falando.

As entradas do repórter na matéria, com suas passagens, devem ser naturais e alguns cuidados com a postura devem ser tomados. Por exemplo, tronco curvado e ombros caídos passam imagem negativa, de desânimo. Ou a postura excessivamente dura, sem mobilidade dá a impressão de prepotência e arrogância. Essas incoerências de posturas causam também, distanciamento entre o emissor e o receptor, prejudicando a compreensão.

Em relação à melhor utilização do corpo nas passagens do telejornalismo é aconselhável manter postura natural. Na maioria das vezes o repórter é filmado da cintura para cima, em plano americano, e uma das mãos aparece segurando o microfone, que deve estar mais ou menos a um palmo do queixo. O tempo da filmagem, na maioria das vezes é curto, e um ou dois gestos com as mãos no máximo, são suficientes. Usar os gestos e afeições com comedimento é a melhor solução para uma passagem sóbria.

Os cuidados com o corpo, com a aparência devem ser preocupações do próprio repórter com aquilo que vai refletir diretamente na eficiência do seu trabalho.

A consultora de moda Regina Martelli, citada por João Elias da Cruz Neto (2008), considera que a informação deve receber muita atenção, mas na hora do repórter aparecer no vídeo é preciso saber o que pode interferir na compreensão do fato.

Essas posturas levam a crer que o telejornalismo está muito discretamente ampliando suas formas, mas muito ainda será feito. É necessária a diminuição entre a distância imposta entre emissor e receptor. Buscar cada vez mais no telespectador a cumplicidade, fazendo o repórter um componente da construção e compreensão da mensagem.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Falando com as mãos

Com exceção das transmissões televisivas em linguagem de sinais, não podemos considerar "correto" o uso desenfreado da gesticulação manual dos telejornalistas em seu vídeo. Como consideram Kryllos, Côtes e Feijó tratando deste assunto específico, em uma passagem de uma matéria de TV, desempenhar de dois a quatro pequenos gestos é o necessário. Usar dos gestos em demasia é um problema, não necessariamente para a construção da matéria, e sim para sua compreensão. Vejamos alguns exemplos ilustrativos:

1- Em uma passagem, é necessário que além da quantidade, o repórter se atente em ser coerente. De absolutamente nada adianta se ele estiver se referindo ao tempo hoje, ou ai dia de "hoje" e apontar com o polegar para trás.

2- Na maioria das vezes, quando o repórter narra um fato e faz enumerações, não necessaariamente a contagem precisa ser acompanhada com a mão, por gestos. Ele pode se eximar desta atitude mas, se o fizer, que seja coerente na enumergação e gesticulação.

3- Os jornalistas, apresentadores e âncoras, ao ler uma cabeça, nota pé ou nota seca, precisam, também, ser coerentes. Primeiramente, que não sejam exagerados. O quadro de visão do telespectador é curto, reduzido. Assim, mais cuidado deve ser tido para nada ser feito além da conta. Outro detalhe importante: a bancada é um ambiente de silêncio e seriedade, principalmente as mulheres com anéis e pulseiras, e os homens com alianças e relógios, devem ter cuidado para que cada gesto não seja acompanhado de um barulho que vaza no microfone de lapela. Assim, será, a cada gesto, um susto ou um desvio de atenção para o telespectador.

4- Nunca, em hipótese alguma, os gestos devem sair da linha baixa do campo de visão da câmera (televisão para o telespectador). Os gestos com as mãos não devem ultrapassar a linha abaixo do peitoral do profissional. Em hipótese alguma, devem ficar acima da linha dos ombros e jamais alcançar a linha do rosto.

Estas são algumas considerações que precisam ser tidas quando o assunto está sendo analisado de forma inicial. Muito ainda pode ser dito (o que faremos mais à frente). É importante lembrar sempre, que, os gestos, principalmente nas passagens em telejornalismo, precisam ser complementos para o que está sendo dito, um reforço. E nunca significar um prejuízo à matéria.