quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A catarse televisiva

Os padrões precisam ser respeitados, as condutas também. Formas politicamente corretas de montar uma matéria para TV, bem como a postura intocável e profissional de um repórter de telejornalismo precisa ser mantida para que a informação seja passada de forma idônea e mais direta possível. Tal análise é completamente aceitável e livre de constatações. Exceto quando se trata de estar cobrindo a maior guerra contra o tráfico de drogas que o Brasil já viu – o chamado factual.

Alguns profissionais que até então mostravam sua experiência em coberturas internacionais se juntaram àqueles que, mesmo com pouca quilometragem, já têm o ardor pela busca da informação. Na prática, o que vale é quem está no lugar certo, na hora certa. A respiração ofegante do repórter, a câmera tremida por corridas e passos apressados, são facilmente respeitadas e deixadas de lado.

Tanques, armas, bombas, tiroteios, tropas e traficantes. O que sobra? A imagem. Do que serviria o belo dom da palavra se não fosse o impacto das imagens? A maior arma é a palavra munida de uma filmadora. Incomparável é ver e se emocionar com os fatos. Mas, o ser olimpiano, aquele repórter que dá sua vida em nome da profissão e da informação, desce do pedestal e se mostra como cidadão comum, passível de emoções. Mostra-se como aquele homem-profissional que, como todos, está com medo, cuidando da sua própria vida e dos seus demais. Os cameramen viram irmãos, cada passo de um, seguido pelo outro.

O repórter e a imagem

Os ternos bem alinhados e as roupas impecáveis dão lugar ao colete à prova de balas. As maquiagens retocadas e os cabelos bem aparados cedem espaço a rostos cansados, camisas molhadas e cabelos ao vento. Nada ali, nenhuma postura se torna mais importante do que emocionar. Informar tocando o telespectador.

Neste momento, a referida imagem de descuido e falta de preocupação com a aparência, que em outras situações seria motivo de críticas e de desvio da atenção do fato narrado pelo telespectador, passa a ser agente facilitador. Ou seja, o receptor da mensagem, emocionado com o alto grau de envolvimento do repórter, com a vivência do fato, se aproxima do acontecimento, tendo pena, elogiando e até mesmo sentindo orgulho do profissional. Assim, a informação fica mais bem aceita. O que era erro, vira acerto.

A catarse, que em comunicação é considerada a grande descarga de sentidos e emoções, precisa ser canalizada e tida como o grande filão da eficiência de telejornalismo. Portanto, seja como for, informar é extremamente necessário. Agora, tocar, emocionar e marcar, é essencial. O repórter e a imagem passam a ser únicos e incomparáveis.

Texto também publicado no Observatório da Imprensa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário